domingo, 25 de novembro de 2018

Por que fingimos o tempo todo?


Fingimos querer o que não queremos, viver o que não vivemos e amar o que odiamos.


É tão triste, mas fingimos que isto não é um problema.

Fingimos ser bem sucedidos e ostentamos uma vida para parecermos prósperos, ao mesmo tempo em que nos endividamos ou mesmo deixamos o essencial de lado. Tudo por conta do status.

Fingimos não estar afim de alguém só para tentar passar uma imagem de que não precisamos ser amados, ao mesmo tempo em que no fundo, no fundo, estamos interessados. 

Até demoramos responder no whatsapp só para transmitir a impressão de ser alguém difícil, desejada, requisitada. Tudo por conta do nosso ego e insegurança. Gente precisada.

Também reclamamos não ser amados, ao mesmo tempo em que nem amamos.
Ficamos com várias(os) parceiras(os) que nem gostamos, com a intenção de nos sentirmos os garanhões ou mesmo requisitados.

Fechamos os olhos quando o problema não nos afeta diretamente, apenas para não precisarmos ajudar. O que acontece com essa gente?

Fingimos até estar felizes. Só postamos fotos dos esporádicos momentos bons, para fingir que estamos sempre bem, sorrindo, ostentando, amando e sendo amados. E, às vezes, nos bastidores, somos pessoas amargas, depressivas, problemáticas, pobres e vazias.

Fingimos ser ricos, mesmo sendo pobres. Somos de baixo requinte, quando que fingimos ser nobres.

Fingimos que a nossa vida é só bebida e curtição, quando no fundo somos solidão.

Tem mulher que finge até orgasmo e homem que finge amor. Uns fingem frio e outros calor.

Fingimos concordar o tempo todo com as pessoas à nossa volta, com medo de que estas se afastem. Ao mesmo tempo, arrotamos que somos sinceros. Falsidade aqui é mato! Que chato.

Fingimos ser bons em tudo, para parecermos fortes e insuperáveis, quando que somos pessoas falhas, fracas e aprendizes. Por isto não somos felizes.
Fingimos inconformidade, mas continuamos calados.

Falamos que “o que vem de baixo não nos atinge”, ao mesmo tempo em que postamos compulsivamente frases sobre pessoas que falam mal de nós. Afinal, fingimos não estar nem aí para as fofocas, quando na verdade nos sentimos muito mal quando elas chegam até a gente. Estamos doentes!

Tem gente que finge transformação, outros constância. Alguns fingem justiça, mas são vingança.

Nos aproximamos de pessoas por interesse em algo e não no alguém. Afinal, parece que vivemos de trocas. Que desdém!
Fingimos sentir saudade e apego, mas sequer nos preocupamos em saber se as pessoas então bem.

E, por falar nisto, fingimos comemorar as conquistas daqueles que estão à nossa volta. Até queremos vê-los bem, de modo algum melhor que a gente.
Tem gente que finge ódio, tem gente que finge paixão. Alguns fingem dor, outros emoção.

Fingimos saber de tudo, mas não entendemos de nada.

Fingimos ser o que não somos, ter o que não temos e sentir o que não sentimos.

Afinal, sempre fingimos!

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Sim, o racismo existe. Não, ele não é imaginário e muito menos ‘vitimismo’



Ainda que o superemos a cada dia, só quem é negro sabe o peso de ter nascido com pele em tons mais escuros. 


Em um paradoxo mais poético, a melanina a mais nos torna amigos do sol, mas não nos permite nascer ao sol. Ela tem um preço alto, assim como o cabelo crespo e o nariz largo também têm.
IMAGEM: Reprodução G1
Em pesquisa, o Ministério do Trabalho e Emprego desenha melhor este cenário. Aqui em Goiás, por exemplo, a média salarial de pessoas brancas é de R$2.375,80, enquanto a de pessoas negras fica em torno de R$1.915,10, uma desvantagem de 19,4%. 
Se observarmos o Centro-Oeste, este número sobe para 29,7%.


Cresci ouvindo piadinhas que me faziam sentir muito mal. Elas não deixaram de existir, eu fui quem passei a entender que o problema não está em mim, mas nas pessoas miseráveis de entendimento e irrevogáveis ignorantes. Sei que a culpa não é 100% deles, ao menos se olharmos de um aspecto cultural.

Fui forte. Não me recluí e nem me oprimi diante do que me impunham como o meu lugar. É, muitos podem não perceber, mas o preto já nasce com o seu lugar pré-definido.

O que mais me deixa triste é saber que milhares e milhares de crianças negras não tiveram ou não terão esta força que tive. Não sei de onde veio tanta força, mas teorizo que eu tenha convertido tudo de negativo em positivo e todas as impossibilidades em viabilidades. Não tive portas e sim janelas, mas decidi ir lá fora ver como era o sol.
Descobri que a energia dele é incrível.

Tive que ousar. Acho que esta é a palavra central. É preciso ousadia e coragem para romper as barreiras do preconceito. Saltei os umbrais.

Ouvi literalmente de pessoas próximas que o Jornalismo não era pra mim e que eu tinha "que procurar um curso como pedagogia, administração ou letras". Primeiro que não considero nenhuma profissão menor que a outra, a não ser com critérios elitistas. Segundo que não dei ouvidos.

Tenho mais duas amigas e um amigo que vivenciaram histórias parecidas com a minha.

Para quem não vive esta realidade de carregar as mesmas características que eu, explico como é o racismo: o racismo é algo muito mais profundo do que costumam elaborar por aí. É cultural e vai além do físico e do pragmático.

Na faculdade sentimos bem o que significa isto. Em todas as atividades, precisávamos nos esforçar três vezes mais para acompanhar o ritmo de quem não trabalhava, não pegava ônibus, não sustentava a família [mas era sustentado] e não sofria com a discriminação pendurada à nossa pele.

Os professores que nos tratavam com desdém não precisaram nos chamar de “macacos pretos” para por o preconceito em prática, mesmo que não declaradamente.

Isto, o preconceito nem sempre gosta de ser chamado de preconceito. Muitas das vezes se traveste de meritocracia ou de "não fui com a cara". 

Alguns ignorantes acreditam que ele só acontece quando um branco chama um negro de “preto” e “macaco”, com a finalidade de ofendê-lo. Ou mesmo vomitam que preconceito racial se caracteriza em ocorrências de agressão física apenas pelo fato de a vítima ser negra.

A pior situação é quando um negro não é capaz de enxergar o preconceito que sofre. Ou seja, em prática, já aceitou sua condição social inferiorizada como sendo algo normal ou do jeito que tinha que ser.


Mas, olhemos ao espelho:



Os negros compõem apenas 12,8% dos alunos de ensino superior no Brasil. E, de acordo com dados de uma pesquisa do Instituto Ethos, divulgada também em 2016, pessoas negras ocupam apenas 6,3% de cargos na gerência e 4,7% no quadro executivo, embora representem mais da metade da população brasileira.

Estes dados também explicam como, em uma entrevista de emprego, a cor da pele e traços raciais falam mais alto que as competências elencadas no currículo.

Também explicam o porquê de os pacientes se assustarem quando entram no consultório e se deparam com um médico negro.

O racismo no Brasil e no mundo ainda é preocupante. É absurdo, mas ignorado e tratado com normalidade.

Eu e mais milhares de jovens negros não podemos sair por aí com uma touca de frio [ou boné] na cabeça que já somos marginalizados e vistos como “gente com cara de bandido”, enquanto um jovem branco, com os mesmos acessórios, é tido como playboy estiloso.

Isto explica bem o fato de a violência policial contra negros ser bem maior. É como se o negro já nascesse numa espécie de tronco social, com permissão para ser violentado, desprezado ou agredido verbo-fisicamente.

O fato é que a dívida racial é grande. Dizer que ela não existe é querer calar uma classe que sempre esteve no lugar de oprimida. Muita gente [a maioria branca] que diz que o racismo é ‘mimimi’ tenta, na verdade, esconder o medo que existe dentro de si de perder o lugar sempre tão privilegiado.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O pior estado de escravidão é quando ela sai do campo físico e se instala no mental

REPRODUÇÃO: Nikkei Asian Review


A manobra de massas nunca deixou de ser instrumento nas mãos de políticos. Hoje, com o advento da internet, sofremos um câncer devastador chamado Fake News, termo que o brasileiro conheceu na prática em sequência às eleições nos EUA.

Para alguns dos eleitores, um texto ou vídeo compartilhado no Whatsapp não precisa necessariamente ser verdadeiro, mas apenas precisa ser a favor de seu candidato preferido e contra a oposição.

No caso de Bolsonaro, todas e quaisquer notícias sobre suas declarações absurdas são chamadas de tendenciosas e inverdadeiras. Mas quando o teor das mesmas é comprovado, pulam para a casinha da passividade, relativização, justificação, ironia, menosprezo e banalização, buscando minimizar a gravidade de tal fato. Não há lugar para reflexão ou repúdio.

Este comportamento põe a teoria pregada por eles mesmos em contradição. Aquela de que os eleitores do PT é que são burros e massa de manobra.

O que mais me preocupa não é o fato de 57% dos eleitores votarem em Bolsonaro. O que me assusta é uma enorme parcela destes que não consegue sequer questioná-lo. Aceitam todo e qualquer posicionamento ou declaração com preocupante passividade.

Assim, criam um ambiente de extremo conforto para o futuro presidente do País. Afinal, não precisar prestar conta e esclarecimentos sobre seus posicionamentos esdrúxulos é tudo que Bolsonaro quer. A indisposição ao raciocínio e o fugir do campo do debate é o seu habitat natural.

O Capitão tem um vasto histórico de posicionamentos ridículos, machistas, violentos, rasos e homofóbicos.

Uma sociedade com indivíduos “não pensantes” é o cenário ideal para os moldes ditatoriais e prejudiciais à democracia.

O mesmo alerta cabe também a uma parcela de eleitores de Haddad.

Se o que ajusta um líder são seus seguidores, creio que quem permite o Bolsonaro tornar-se quem é são alguns de seus próprios eleitores.

O cidadão que não é capaz de questionar os deveres de seus representantes, está sujeito a viver sem seus direitos pro resto da vida.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Não deu pra segurar a falta, então eu fiquei

Teatro Goiânia


A capital do Sertanejo sempre esteve atrelada aos meus sentimentos de paixão.

Hoje, como escrevi em um outro texto, o que mais me encanta na cidade é o multiculturalismo, a mistura, a diversidade.

Goiânia parece ter mais tocantinenses, baianos, paraenses e maranhenses do que o próprio goianiense. 

É a cidade dos pastéis na feira, do morango à beira-rua, dos pequis nos terminais e do português e trânsito diferenciados. Aqui, além do Sertanejo, encontramos estilos musicais do Rock ao MPB, do Forró ao Funk. 

Quando pisei em solos goianienses pela primeira vez, eu ainda vivia meu primeiro aninho de vida. Tudo era novo, tudo era emoção. 

Na ocasião, protagonizei uma das histórias mais emocionantes que minha Mãe já viveu. Na casa de uma das tias que eu tenho na bela Cidade, avistei um fogão que me conquistou pelas cores e design que o embelezavam. 

Resolvi abrir a porta do forno e adentrar àquela máquina que, na imaginação fértil de uma criança, mais parecia uma nave com tecnologia de ponta. Passageiro a bordo, fechei a porta da aeronave e comecei a viajar no meu universo de menos de 2m³. 

Foi um desespero! Após me procurarem por todo canto da casa, saíram às ruas, imaginando que alguém teria me raptado ou que eu fui dar uma volta no bairro.

Ao retornarem para dentro de casa, escutaram um barulho meio estranho na cozinha. Era eu simulando o pouso de minha aeronave. 

Nos passeios à noite, pela cidade, ficava seduzido com as miríades de luzes amontoadas dos bairros ao redor. Era a iluminação pública, mas na minha cabeça tudo fazia parte de uma interminável ornamentação natalina. Estávamos no Natal, por sinal! Inclusive foi aqui que tive o meu primeiro e triunfal encontro com o Papai Noel, no Goiânia Shoping.

Em 2007, já aos 12 anos de idade, tornei voltar à Capital do Goiás. Não foi muito fácil! Meu pai prometeu me trazer, mas eu teria que conseguir a metade da passagem. Minha paixão era grande. Tratei imediatamente de levantar o dinheiro.

Até hoje eu não sei exatamente o porquê, mas sempre amei a cidade. 

Me lembro como se fosse hoje de eu abordar as senhoras (da Rua Gov. José Ludovico, onde eu morava, em Ponte Alta do Bom Jesus-TO) e me oferecer para eu capinar o quintal da casa delas, pois precisava vir a Goiânia, passar o Natal. Acho que pelo fato de ser ainda criança e tão empenhado, acabei as convencendo. 

Consegui o dinheiro e vim. 

Foi outro Natal, dessa vez ainda mais encantador. Passei pela primeira vez pelo maravilhoso túnel natalino da Tamandaré, uma praça do Setor Oeste, região nobre da Capital.

Pensei que já pudesse ficar, mas minha Mãe, que estava no Tocantins, não quis deixar.

Só em 12 de Abril de 2012 é que eu e minha Família finalmente nos mudamos de vez para cá. Decidimos de uma hora pra outra, o que me deixou um pouco de inseguro. Mas a prerrogativa era "para ter um futuro melhor e poder crescer na vida". Acho que deu e está dando certo. Aqui concluí o Ensino Médio e fiz Faculdade. 

Olhando para trás, percebo o quanto me fez bem sair da Rua José Ludovico para a Capital do majestoso Pedro Ludovico. Hoje nem passa por minha cabeça sair daqui um dia. A paixão continua, e o encanto também.

Numa licença poética de "Rumo À Goiânia", de Leandro e Leonardo, eu diria que não deu pra segurar a falta e então eu fiquei. 

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Ao colocarmos Haddad e Bolsonaro no segundo turno, já elegemos o PT em 2022

IMAGEM DA INTERNET


Com o cenário instaurado pelas pesquisas, nem faz mais sentido chamar o Bolsonaro de candidato. Ele continua à frente da disputa presidencial com 59% dos votos válidos contra 41% de Fernando Haddad. Tudo isto a apenas 13 dias para o segundo turno.

Já está decidido: ele será o próximo Presidente do Brasil. Na verdade, agora, precisamos ser mais maduros e começarmos já a discutir como será o seu governo.

Como eu já havia dito anteriormente, em outro artigo, a “prisãode Lula será útil ao seu discurso futuro, onde se colocará como mártir”.

O ex-presidente Lula está preso já há seis meses (desde abril deste ano), condenado a 12 anos e um mês de prisão, no caso Tríplex do Guarujá. Como eu também já disse, tenho uma forte impressão de que a condenação se resumirá em menos de um terço da pena. Nada que um Habeas Corpus não resolva.

Talvez os brasileiros que votaram em Bolsonaro para dizimar o PT não tenham ainda percebido, mas o Lula não está, de fato, interessado em eleger alguém nestas eleições de 2018. Isto porque quem for eleito enfrentará grandes desafios e terá de aprovar projetos e PEC’s impopulares, ainda mais severas que as de Michel Temer.

E, de acordo como reza o plano de governo do capitão, as ações serão ainda mais profundas. Além dos graves problemas com a saúde, educação e segurança, o próximo chefe do Executivo terá de resolver as questões previdenciárias, trabalhistas e fiscais.
Como disse o próprio Bolsonaro, a cadeira da presidência não está muito convidativa, independentemente do presidente escolhido para sentar.

Com isto, é muito mais inteligente Lula ter tentado concorrer e, mesmo sabendo que não iria ganhar, aproveitar para introduzir uma retórica vitimista, que reforçará no oposicionismo durante o governo de Bolsonaro. E depois dizer, “bem que eu avisei”.

Para Lula, ruim seria se ele não tivesse sido preso, situação que incendiaria o consciente coletivo e popular do brasileiro em um sentimento de revolta e sensação de impunidade. Aí, sim, o PT poderia ser extinto.

Lula não perdeu os direitos políticos, apenas teve a candidatura impugnada em 2018. Mas, em 2022, caso ele já esteja solto (situação mais provável) e até onde eu saiba, nada o impede de se candidatar a presidente e voltar com o discurso, acusando a própria Justiça e demonizando o seu então adversário Bolsonaro. Um espécie de “FORA BOLSONARO!”.

É uma estratégia ‘lulística’ que nem os diplomados ainda não perceberam.

Ao colocarmos Haddad e Bolsonaro no segundo turno, já elegemos o PT em 2022. 

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Prisão de Lula será útil ao seu discurso futuro, onde se colocará como mártir


IMAGEM: REPRODUÇÃO PORTAL UOL


Na última quinta-feira (5) o Supremo Tribunal Federal decidiu, por 6 votos a cinco, negar o pedido de habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi um julgamento tenso e difícil para o Brasil, ainda mais por colocar o País em bisseção.

Especialistas políticos, jornalistas e até o próprio judiciário previam que Lula pudesse ser preso 'dentro dos próximos dias', não imediatamente, como se concretizará. Todos surpreendidos pela notícia de que o Juiz Sérgio Moro o expedira uma ordem para que o ex-presidente se apresentasse até às 17h desta sexta-feira (6), na sede da Polícia Federal, em Curitiba.

Os advogados já fizeram um novo pedido de habeas corpus, com a argumentação acerca de que a expedição da ordem foi muito rápida, não esperando sequer o esgotamento dos recursos possíveis em segunda instância. E os argumentos realmente fazem sentido, já que a ordem foi feita apenas 20 minutos após a autorização do TRF-4 e em menos de 24h da decisão do STF. 

É evidente - inclusive para a maioria dos especialistas - que a condenação a 12 anos e um mês de prisão, no caso Tríplex do Guarujá, se resuma a alguns meses de prisão, apenas. No máximos que se conta em uma só mão. E Lula é consciente disto, é claro. Ele sabe que sua prisão pode ser transformada em uma suculenta ferramenta para fortalecer o seu discurso considerado por muitos "vitimista". Para ele, pior seria se não fosse preso.

Na minha humilde análise de variáveis cálculos, sou convicto de que ele não disputará as eleições de 2018. Ao menos de corpo e alma, porque seu corpo estará dentro de uma sala pequena e simples, na Polícia Federal, provavelmente. Já sua alma, seu símbolo e sua força poderão lançá-lo inicialmente como candidato, mesmo sabendo que não será de fato, devido à Lei da Ficha Limpa. Neste cenário, é bem capaz de que ele se coloque como candidato até onde não dá mais e depois tente transferir sua força eleitoral para outro 'cumpanhêro' de sua preferência. 

𝐏𝐨𝐫 𝐢𝐬𝐬𝐨 𝐝𝐨 𝐝𝐢𝐬𝐜𝐮𝐫𝐬𝐨 𝐜𝐥𝐢𝐜𝐡ê 𝐝𝐞 𝐪𝐮𝐞 𝐚 '𝐡𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐚 𝐯𝐚𝐢 𝐜𝐚𝐬𝐭𝐢𝐠𝐚𝐫' 𝐪𝐮𝐞𝐦 𝐨 𝐜𝐨𝐧𝐝𝐞𝐧𝐨𝐮: "Politicamente falando, Lula tá medindo milimetricamente cada ação para que ele seja convertido em um ser divino, num futuro muito próximo", alencou o apresentador Ricardo Boechat, em um contundente comentário feito em seu programa na Rádio Band News, na manhã desta sexta-feira (6/04).

Lula há de sair da cadeia nos próximos meses - no máximo 3 anos - e se colocar num liquidificador, misturando sua figura às figuras de outros como Mandela, Tiradentes e até Jesus Cristo, como de costume. Em epítome, a prisão de Lula será útil ao discurso futuro, onde se colocará em nível mártir. Se bem que poderia ser isto sem precisar desse esforço todo, se atentarmos às minhas observações abaixo.

Eu tenho que ser honesto! Lula é, até o momento, a figura mais popular e respeitada mundialmente entre o rol de ex-presidentes da República Brasileira. Foi, inegavelmente, o que mais fez pelo País, principalmente pelos desfavorecidos, que antes não recebiam tanta atenção dos chefes majoritários da Federação.

Grandes avanços nos variados setores, com destaque para a Educação. Mas, paradoxalmente, também foi o que permitiu o maior saqueamento dos cofres públicos já registrados na história. 

Envolveu-se com porcos e semelhante a tais acabou se tornando. Poderia realmente ser um mártir, uma figura exemplar e inspiradora em registro histórico, mas não se conteve ante os altos algarismos que o cifrão pode registrar. Uma ambição por poder, que não chega a reduzir em pó a sua reverenciada biografia, mas implica em uma mancha jamais esquecida. 

Eu, por exemplo, nunca teria condições para ter feito uma faculdade de Jornalismo, que, em Goiânia, onde moro, chega a custar R$ 2.500,00 mensalmente. O FIES - que não foi exatamente Lula quem criou, mas o avançou - me concedeu a oportunidade de não permanecer num nível de escolaridade onde jovens - negros e pobres como eu, com a mesma origem que a minha - costumam encalhar. Mas também não posso ser hipócrita de justificar os pecados de lula, como seus seguidores fazem, pelas boas ações que realizou em nosso País.

Lula é um político extremamente inteligente, articulador, estratégico e sabe como sair de bom moço, mesmo quando os ataques são certeiros. Tudo ia muito bem, inclusive estava aparecendo em frequentes entrevistas concedidas em emissoras relevantes, onde falava como um 'super político'. Já no final do primeiro mandato do Governo de sua sucessora Dilma Rousseff, as bombas-relógio começaram a eclodir. Por isso tenho Dilma como inocente em muitas acusações a ela feitas. 

Desde o impeachment  de Dilma, onde os discursos de "perseguição" e "golpe" ganharam força, Lula se coloca como alguém que não pode ser suspeito, investigado, acusado, julgado e preso. Inclusive, em algumas declarações, parecia se considerar acima da lei. "Eles querem me prender porque governei para os pobres e tirei o Brasil do mapa da fome". Esta já é uma frase indispensável às suas alocuções nos palanques por onde passa. 

Não estou dizendo que a prisão de Lula e as investidas judiciais na galera do PT não tenham interesses políticos por trás, sei que tem muita gente aproveitando a ocasião. Mas não podemos deixar de punir um indivíduo só pelo poder que tem ou pelas coisas boas que fez. A punição à Lula é exemplar, pois mostra aos demais corruptos que se até "Lula-Jesus" foi preso, todos estão sujeitos à Justiça. 

É claro que a luta não para por aqui, pois o ex-presidente é apenas um entre as miríades de políticos descarados que merecem cadeia. Inclusive Michel Temer, Alckmim, Serra e Aécio Neves & Cia, que, mesmo tendo mais provas de seus crimes do que Lula, permanecem em liberdade.

Uma coisa é certa: já que prendeu um, terão de prender todos. Moro não pode se aposentar ou fugir da raia antes de por os outros grandes corruptos na cadeia, até para não configurar, de fato, um projeto de interesse político. A pressão tem que continuar e espero que 'MBL' e 'Vem Pra Rua' estejam conscientes disto, porque vão ser cobrados arduamente, inclusive por mim. 

sexta-feira, 16 de março de 2018

Poupemos a família de Marielle de conjecturas idiotas, sugestões irresponsáveis e juízo precipitado

Devemos ter cautela, ser céticos, críticos e não ingerir discursos políticos apresentados pretensiosamente

IMAGEM: Revista Fórum


É evidente que o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL – Rio) tenha causado grande comoção nacional, em especial no Rio de Janeiro e São Paulo, onde se concentraram multidões em manifestação ao horror.

Fiquei triste e preocupado com a quantidade de postagens - irresponsáveis, do senso comum e isentas de imparcialidade - passando na minha timeline. A maioria sugerindo o “porquê” e “por quem” a vereadora foi morta.

É até natural – não saudável - que as pessoas, com as paixões e ódios alimentados pelo momento, se apropriem de discursos que atribuam a culpa a alguém ou algo. A parte mais grave é que a própria Imprensa – que por obrigação de ofício tem que ser o menos sensacionalista possível - está neste mesmo barco de conjecturas.  

A esquerda diz ser obra de milícias, polícia ou alguém da direita que tinha o interesse de calar a voz da parlamentar, que sempre ecoava contra exacerbações policiais e em defesa dos negros, mulheres e favelados.

 Já outros da direita culpam a própria vereadora, pois a consideram como “defensora de bandidos” ao lutar pelos Direitos Humanos. É como se estivessem dizendo: “Bem feito! Isso aí é para deixar de proteger bandidos e começar a valorizar os policiais”. Inclusive sugerem que militâncias esquerdistas e PSOL & CIA estão fazendo do caixão um palanque para ascender discursos políticos que deem força às suas ideologias e enfraqueçam a Intervenção Militar do Rio.

Muita gente, inclusive, diz ver muita hipocrisia de quem dá tanto volume ao caso, pois morrem “pessoas comuns” e policiais em situações iguais ou piores todos os dias e “ninguém não está nem aí”. Mas o fato é que a vereadora prestava serviço de grande relevância à população, principalmente pelas causas e lutas em que se empenhava. Fora que era figura pública e, naturalmente, a repercussão é maior.

Há também quem atribua o motivo da morte ao fato de ela ser negra, mulher, defensora de mulheres e 5° vereadora mais votada do Rio, o que incomodaria a muitos.
Nem tudo é mentira, porém nem tudo é coerente.

A verdade é que tanto um lado quanto o outro têm interesses em aproveitar o fato para fortalecer suas opiniões, elencar suas causas e “nutrir” seus discursos. O problema é que, com essa atitude irresponsável e movida a interesses políticos e ideológicos, desrespeitam o momento e prestam um desserviço à sociedade.

Devemos ter cautela, ser céticos, críticos e não ingerir discursos apresentados pretensiosamente. Até o momento só sabemos que foi uma execução brutal e planejada. Não há, ainda, evidentes elementos que confirmem causa ou culpados por sua morte.

Vamos poupar ao menos o luto da família de conjecturas idiotas, sugestões irresponsáveis e juízo precipitado do que pode ter sido o real motivo pelo assassinato de Marielle.


Insiro aqui abaixo o link de uma análise responsável do Poerchat sobre o assunto. Vi depois de escrever o texto e resumiu bem o que eu escrevi.
https://www.facebook.com/radiobandnewsfm/videos/1558343400943564/

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Jakeline com K


Dependurada na haste de apoio do ônibus que faz a linha 003, em Goiânia, uma mulher cochila com a cabeça apoiada sobre o braço, mesmo em pé. Ao meu lado, recostada na janela, outra mulher divide um banco duplo comigo. Ofereci insistentemente o meu lugar à que estava cochilando, porém não aceitou.

Era ainda manhã de hoje, mas a lotação estava medianamente cheia, todos os passageiros com cara de indisposição, menos eu. Fazia quatro meses não andava de ônibus e, coincidentemente, precisei utilizar.

O silêncio pairava, até que foi quebrado por uma senhora (aparentando 60 anos) que acabara de passar pela roleta. Ao se posicionar de pé, ao meu lado, ela dá um alegre ‘bom dia’ e pergunta o meu nome. Respondi repetindo quatro vezes até que ela subentendesse. Antes que eu perguntasse o dela, ela mesma se apresentou como ‘Jakeline [com k]’, mas que eu pudesse chama-la de Jake.

“Você tem nome de gente chique e cara de trabalhador. Sem contar que é um negão muito atraente, sabia?”, disse ela sem limitar a altura da voz, instaurando uma crise de risada coletiva. Eu também ri ao mesmo tempo em que respondia um “não”.

Dona Jake, muito animada, continuou a investida, só que desta vez mais ousada e incisiva: “É sério, gente, um morenão é delirante, faz as pernas tremerem”, continuou. Desta vez, as risadas foram tão altas que nem ‘A Praça é Nossa’ conseguiria algo do tipo. A mulher que cochilava, agora se contorcia de tanto rir.

Fiquei extremamente constrangido, ainda mais por outra bobagem (não convém contar aqui) que ela falou logo em seguida sobre ‘ser negão’, perguntando se eu aceitava me casar com ela. Com a postura de bom moço recatado que todos sabem que tenho, abaixei a cabeça e também ri muito.

Não conseguia responder nada. Todos os músculos do meu rosto se contraíam de tanta vergonha, enquanto que eu rezava para que chegasse logo o ponto de eu descer. Procurei um buraco para enfiar a cara.

Ao me levantar para acionar a campainha, ela se despediu, disse que era só uma brincadeira para deixar o dia de todos mais animado. Educadamente, respondi. O ônibus parou, eu desci, e o povo continuou rindo.

Perdi todo o gingado, ainda mais que estou mais para um anoréxico do que para um ‘negão atraente’, mas fiquei meditando na diferença que aquela senhora fez no dia de hoje para todas aquelas pessoas, proporcionando um senso de humor. Isso, mesmo tão simples para as pessoas e meio constrangedor para mim, melhora o dia de qualquer ser humano que tem um dia todo de trabalho pela frente.

Por mais pessoas alegres como a dona ‘Jakeline com K’. 

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