domingo, 8 de maio de 2016

Mainha: Um retrato de nobreza e aprendizado

Segundo significado da palavra, Mãe é: "O ser do gênero feminino que gera uma vida em seu útero como consequência de fertilização ou que adota uma criança ou filhote, que por alguma razão não pôde ficar com seus pais. Para todos os efeitos, aquela pessoa do gênero feminino que adota, cria, e cuida de uma criança gerada por outrem."

Encontramos, com frequência, casos em que uma mãe desempenha o papel de mãe e de pai em simultâneo, e outros casos (mais raros) em que o pai cumpre o papel de pai e de mãe. No meu caso, desde um tempo, minha mãe desempenhou o papel de pai e de mãe. 

Minha intenção aqui hoje é destacar a importância da Mãe na formação de nosso caráter e principalmente futuro. Tenho muita compaixão dos que não puderam ter esta importante peça, as vezes porque a perdeu mesmo antes de conhecer, quando era ainda pequeno, há pouco tempo ou mesmo por não tê-la presente (abandono). 
Eu e ela
Há exatos [até o momento em que redigi o texto] 20 anos, 245 meses, 1070 semanas, 7494 dias, 179852 horas, 10791165 segundos, estava minha Mãe, Orlene Alves Vieira, em uma maca do Hospital Bom Jesus, em Ponte Alta do Bom Jesus - TO. Apresentando comportamento e reação distintos, não conseguia falar, apenas sinalizava com os olhos, sem força ao menos para me colocar para fora. Segundo testemunha ela, todos os três filhos são frutos de parto normal, mas eu fui o filho que dei mais trabalho para nascer. Eu era também o maior de todos e o mais "chutador de barriga". 

Fui um filho, relata ela, que não dei muito trabalho, sempre fui de casa e gostava de estar sempre ajudando ela no que precisasse. "Nos tempos de roça, você tinha uns cinco anos, eu acho, quando eu ia todas as noites lavar as vasilhas da janta numa Bica (Queda d'água natural ou artificial, onde a água é despejada por um cano) você nunca me deixava ir só. Ficava tão grudado em mim que ganhou um apelido de "rabo de saia". Ficava ali até tarde segurando a candeia (lamparina) para que eu conseguisse enxergar naquela imensa escuridão. As vezes até cochilava, inclusive teve um dia que acabou dormindo e caiu dentro da poça de água fria [risos]. Não é puxando saco não, mas nunca me abandonou e nem deu trabalho.", diz minha Mãe.
Apesar de ela não ter percebido e nem considerado que eu dava trabalho, eu assumo e sei que dei sim. Afinal, não existe nenhum santinho aqui nesta terra. A única diferença entre eu e meus irmãos é o ato de eu ser reservado, recatado e não transparecer meus "pecados". De resto..."vixe" [risos].
Lembro que quando íamos ao mercado, eu e ela, eu chorava até ela comprar o que eu queria. Enquanto meus irmãos usava da chantagem para dobrá-la eu fazia uso do que meu signo mais me concede, a persuasão e palavras alienáveis. Meu choro não era qualquer coisa, eu tratava em caprichar até na expressão facial estilo Garfield [risos]. 
Episódios mais doidos e que mais me comovem
Assim como todo adolescente em sua plenitude hormonal, houveram alguns momentos em que sentia vergonha de minha Mãe. 
Vou explicar 'rapidão': Segundo o que eu sei sobre psicologia isso é psicológico e acontece bem naquela faze em que você está se descobrindo e identificando-se com outras pessoas. Segundo a psicologia, isso acontece pelo medo de que eles têm dos adultos não se comportarem adequadamente na frente da turma, o que pode torná-los motivo de chacota. A vergonha é um sentimento comum a todos e nessa época da vida, o indivíduo está reorganizando alguns aspectos de sua identidade e caminhando rumo à independência e autonomia. Alguns aspectos infantis são rejeitados e causam embaraço quando explicitados. Muitos deles são vivenciados na relação com os pais, mesmo que os pais não os tratem como crianças. No final, ter vergonha dos pais e até rejeitá-los é a expressão da vergonha de si próprio e de seus aspectos infantis. Pronto, agora podemos continuar.
Episódio 1 - Sempre fui meio fresco com comida. Não comia em qualquer lugar, não porque eu apenas não queria comer, mas porque nem sempre a comida descia. Sou assim até hoje, inclusive não lancho no trabalho. As vezes dona Orlene ia até a escola onde eu estudava para levar um lanche. Ela era, ainda é, tão boa que por saber que eu não comia o lanche da escola sempre arrumava um kit e levava para eu comer no recreio. Mesmo se tratando de um Cuscuz, Creme de Acerola, Leite, Bejú ou Bolinhos, alimentos que eu comia em casa, eu tinha vergonha de que meus colegas vessem. É claro que eu não falava, mas era o que passava pela minha cabeça. Hoje, depois de ter passado dessa fase, tenho muito arrependimento e vergonha do que, inocentemente, passava pela minha cabeça naquela época. 
Episódio 2 -
Depois da separação de meus pais a coisa ficou preta lá em casa. O que dantes já era difícil ficou mais difícil ainda. Minha mãe teve que trabalhar fora, em uma cidade da Bahia chamada Luiz Eduardo Magalhães, onde eu e meus irmãos tivemos que ficar sozinhos. Lembrando que morávamos em Tocantins. De lá ela trazia todo o sustento. Sozinha, sustentou todos os três filhos. Conta ela que essa foi uma fase muito difícil. "Eu chorava tanto quando lembrava que vocês estavam tão longe de mim. Me dava um aperto tão grande no coração. Contava o tempo e até os segundos para que os 15 dias passassem rápido." Lembra ela.
Eu ficava com tanta saudade que nem dormia. Ficava com tanta dó dela que chorava todos os dias ao deitar-me para dormir. Pensava eu: "Um dia terei condições de sustentá-la e não deixar nunca mais ela trabalhar dessa forma." Hoje tenho muito orgulho de ter conseguido isso.
Episódio 3 -
Quando houve o divórcio, tivemos que escolher para que lado íamos: Mãe ou Pai. Eu tinha tanto medo do meu pai que fiquei com medo de ele, sei lá, tomar raiva de minha cara. Acabei que, por precipitação, falando que queria ficar com ele na guarda. Depois me arrependi, é claro. Mas acabou que ficamos todos com ela. Desde então, fiquei triste comigo mesmo.

Trazendo isso tudo para o contexto, percebo o quanto aprendi com ela, minha Mãe. Sua Humildade, Longanimidade, Passividade, Força, Fé e extrema habilidade em ensinar me orgulham e me conduzem a seguir seu exemplo.

Concluindo
Depois de tantos exemplos e de tanto tagarelar, queria deixar um recado como conclusão de meu artigo aos filhos, queridos filhos de todo o Brasil.
Primeiro aos que ainda têm e as desvalorizam: Sabemos que nós, humanos, possuímos dois extremos, o do nascer (vida) e o do morrer (morte). Gostaria que sempre lembrassem que assim como sempre chega a hora de todos, um dia pode chegar a de sua mãe também.
Aos que têm e valorizam 
Parabéns! Que continue vocês assim. Provavelmente deve saber que não existe apoio maior e mais plausível que o da família, em especial o da mãe.
E por último aos que não têm
Procure o ponto de equilíbrio. Acredito que filhos em situações como vocês estão sujeitos a aprender com uma rígida escola chamada VIDA, mas podem se valer de um Pai/Mãe chamado Deus.

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