terça-feira, 18 de julho de 2017

Não é o funk o responsável por indivíduos ‘mau caráter’


IMAGEM: REPRODUÇÃO RECORD TV

Por: Worlem Kenedy

O crime não é o funk e sim o uso do ritmo para fazer apologia ao crime e movimentar a indústria de entorpecentes. Um dos problemas está na utilização de jovens e pessoas sem instrução, com uma realidade social inferiorizada como massa de manobra. O problema é de desigualdade social, desestrutura educacional, cultural e, sobretudo, do nosso governo, que sempre fecha os olhos para as comunidades marginalizadas.

Nos últimos dias tenho visto polêmicos comentários e matérias de jornais sobre a SUGESTÃO 17/2017 que propõe a criminalização do Funk como crime de saúde pública, à criança, aos adolescentes e à família.

Sinceramente, quando vi isto me deu vontade de mandar o Senador Marcelo Alonso (que fez a proposta) ir procurar o que fazer. Porque..., pera aí! Se uma cambada de servos da indústria cultural começa a compor e produzir uns forrós ou sertanejos com apologia ao uso de drogas e ao crime, tratando a mulher como objeto de satisfação sexual, quem deveria ser punido? O que fez a música nojenta ou todos os outros que gostam de forró e sertanejo?

Achei até bom essa polêmica. Ela traz a tona uma discussão maravilhosa que vai ajudar a combater o preconceito e estereótipos que oprimem o ritmo. O funk ainda é visto como “o ritmo dos favelados, pretos, criminosos”. Infelizmente ainda é relacionado à promiscuidade, porque essa é a realidade da maioria das letras. Muitos viveram ou vivem em comunidades onde é normal uma menor ter relação com 10 homens em um tal de “trenzinho do sexo”, no meio do baile funk; onde é normal usar drogas desde adolescente; onde ter arma é símbolo de poder; onde cometer crime é uma forma de protestar contra o estado e a desigualdade social; onde ser traficante é profissão.
A maioria das composições também reforça a objetificação da mulher, tirando-a da posição de sujeito, com sentimentos e valores, apresentando-a e reduzindo-a a um objeto de satisfação sexual.


Ao meu ver, se o País cumprisse as leis que já temos este problema nem seria pauta para um texto como este que estou fazendo:

  • Art. 278 do código penal: Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime. Elogiar, exaltar, enaltecer criminoso ou vantagens do ato ilícito pode incidir de 3 a 6 meses de detenção ou multa, porque constitui incentivo indireto a pratica de crime.
  • Art. 218 do código penal: Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: pena de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
  • Art. 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente: corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la: pena de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão.



Sei que muita gente vai dizer: "Ah, isto é um problema de caráter. Quem quer ser criminoso, assim será. Quem quer ser 'alguém na vida' é só estudar e trabalhar. Essa geração mimimi que diz que a culpa é da sociedade”.

Mas, quando partimos do pressuposto de que agimos de acordo com aquilo que aprendemos desde que nascemos, não dá pra julgar uma jovem que engravidou lá no meio do baile funk e não sabe sequer quem é o pai da criança. É claro que existem exceções. Tem gente que os pais dão uma educação de tirar o chapéu, estudou em boas escolas, teve boas condições financeiras e mesmo assim preferiu ser vagabundo, ou bunda.

Basta a gente questionar quais são as possibilidades de que um jovem, doutrinado pelo crime, nade contra a correnteza e consiga mudar sua realidade cultural, social, educacional, profissional e econômica. 

Wilhelm Reich, o pai da psicologia, dizia que o caráter se forma com a necessidade do indivíduo de se proteger do meio externo. O caráter é um espelho daquilo vivido na infância. A experiência de vida seria um determinante na formação do caráter, onde os comportamentos seriam correspondentes à realidade e ao contexto social em que o indivíduo estiver inserido.

É como disse o Repórter Record em uma edição especial sobre o tema. "O funk carrega na essência a voz de um povo. Um movimento que saiu das favelas para atrair gente de todas as classes sociais. Mas um fenômeno que não consegue se desvencilhar da criminalidade", narra.

Não é o funk o responsável por indivíduos ‘mau caráter’. A cultura do crime é quem dissemina maldade, torna as pessoas sem escrúpulo, sem decência, sem pudor, sem sensibilidade humana.  



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