quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Folear uma página sempre é importante antes de falar mal ou bem da capa de um livro
                                                Registro em 22 de outubro de 2015
Voltando da faculdade, entremeio às pessoas em um Metrobus, no corredor da avenida Anhanguera, me deparei com uma situação enobrecedora para outrem e educadora a minha pessoa. Recostado em uma das partes articuladas do longo veículo, segurando em um apoio à meia mão, levantei me lentamente o olhar a um jovem rapaz que se arranjava à minha frente. Também recostado em uma das partes articuladas do “Minhocão”, só que opostamente. Meus olhos pareciam enxergar somente as “assustadoras” tatuagens, Colares e longos Alargadores que em seu corpo se adornavam. Corpo este, másculo e sugestivo.
Não consegui, talvez pelas fortes ideologias e estereótipos presentes em minha cabeça, nem mesmo controlar os ligeiros e incomedíveis pensamentos tendenciosos com pitadinhas de preconceitos austerosos. Volvia-me em cenas imaginárias: “Deve ser um Play Boy”, “Talvez seja um malandrinho”, “Cara de gente que não tem futuro, que usa até mesmo drogas”. Quando me dei conta, em um inesperado movimento produzido pelo mancebo, me assustei com o que daquela mochila preta pendurada em seus largos ombros tirava para fora. Mochila esta que dantes julgava eu ter entorpecentes ou qualquer outro tipo de objeto “inútil” e “supérfluo” aos meus modelos sociais de uma “pessoa de bem”. Dalí saia uma Bíblia. Um pouco velha, más valorável a mim e a ele, que eu cheguei a pensar que nem conhecia esse livro.
O que me fizera sentir tanto remorso não fora talvez o fato apenas de que um rapaz tatuado e “travestido de bandido” pegar uma bíblia e ler, porém a minha reação típica do povo brasileiro de associar alguns adereços à criminalidade. Não seria apenas uma ideologia, más também um engessamento estereotipado de nossas mentes e comportamentos.
A poucos dias, em um seminário de Teoria da Comunicação, havia citado o tão egrégio e fidalgo pensador Raymond Williams cuja suas concepções inspiram o seu amigo Stuart Hall. O tema era, é claro, Estudos Culturais. No ensejo pude concretizar o que eu já anteriormente cogitava, além de aprender mais sobre definições do que realmente era cultura. Normalmente, a sociedade, em sua maioria, tem se dedicado a aplaudir itens como Cinema, Teatro, Exposições e Músicas Clássicas, como únicos e importantes a serem considerados cultura. Outras expressões como o Funk ou até mesmo o Repe, acabam ficando somente nos bastidores, sendo reprimidos e marginalizados. Esta situação ocorre da mesma forma com as circunstâncias do tipo da que vivi. Por estarmos acostumados desde pequenos a associar tatuagem, brinco, cortes radicais no cabelo e na sobrancelha, deixar o cabelo crescer, alargadores, sexo antes do casamento, à marginalidade ou criminalidade, começamos a reagir de forma a julgar a todos quanto vivem com esses arranjos como pessoas não cidadãs de bem. Agimos de forma preconceituosa e deixamos as de lado como se não fossem tão importantes assim.
Ao concluir o expoente reconto, concluo que devo sempre me lembrar do que disse Daniel Melgaço: “Não se deve julgar um livro pela capa. De fato não, mas se você folhear uma página sequer, já poderá dizer algo sobre ele.

                                                                                                                                Worlem Kenedy

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