quarta-feira, 15 de junho de 2016

Há 128 anos da Abolição da Escravatura, Brasil ainda denota resquícios de uma sociedade preconceituosa e segregacionista

Sancionada em 13 de Maio de 1988 pela Princesa Isabel, a Lei Áurea pôs fim na escravatura no Brasil. O ato foi, conjecturadamente, um marco importantíssimo na civilização social do país, seguido consequentemente por uma customização do novo modelo hierárquico.
Já vou adiantando que é um texto complexo, mas de grande amplitude.
Com veemência e clareza, deixo claro minha forte convicção de que estaríamos em panoramas bem diferentes dos vividos hoje, se tudo isso não houvesse acontecido. O que quero, através deste pequeno texto, é auxiliar no entendimento a saber por qual viés temos embebedado nossos passos de igualdade social.
Para não ser delongador de assuntos, vou direto ao ponto. Você já se perguntou o porque de até alguns dos mesmos negros negros que clamam por igualdade de raça esboçam piadinhas descalcificativas sobre os próprios negros? Se sim, fica fácil entender o resto. Se não, aqui lhe vai algumas exemplares: "Só podia ser preto mesmo.", "preto só faz pretice.", "É muita falta de sorte para um nego só, em minha gente." E aí, se lembrou de mais alguma além destas? Eu também! Só que não dá para contá-las aqui.
Além das "piadilhas" lançadas diariamente por nós mesmos, também existem inúmeros outros casos que deixam transparecer a deficiência igualitária no brasil.
Os próprios negros são racistas e preconceituosos. Falo isso por eu próprio. Sempre que vejo um um jovem branco com uma touca na cabeça e blusão, deduzo em minha tranquilidade que se trata apenas de um play-boizinho, filho de papai. Por outro lado, quando vejo um jovem negro se aproximando, começo a entender que se trata de um assaltante, um bandido ou algum outro que me vá fazer mal. E isso nem sempre é porque queremos. Se trata de uma cultura de valores classificatórios e estereotipados penetrados em nosso subconsciente, que quando percebe alguma presença destas características, ficam mais aflorados e definem o sosso comportamento.
A escravidão 'legalizada' que durou mais de 350 anos, fez com que sobrasse, por durante todo esse tempo, sinais de que ainda existe essa segregação racial mascarada. Uma prova disso são as mulheres que, até a um ano atrás, viviam presas na ditadura do cabelo liso, onde se sentiam na obrigação de alizar o cabelo para ficar próximas ao padrão estipulado. Me lembro muito bem que na minha época de escola, em especial no Ensino Fundamental, meninas negras deveriam ir para a escola ou aparecer socialmente com seus cabelos "devidamente" no lugar. Lugar este também definido pelo padrão. Tranças justas, tirinhas africanas, chapinha, ou ligas bem resistentes, eram as soluções e opções para as "cabelo ruim". Claro que fui irônico. Mas porque aprendemos que os cabelos crespos teríamos que nomear de cabelo ruim? Existe uma classificação? Porque ainda ouvimos muitas pessoas falando "o seu cabelo é ruim", "o meu cabelo é bom". Quem definiu isso? Para sabermos e compreendermos estes paradoxos precisamos voltar lá na Lei Áurea, da tia Isabel.
Vejamos! Durante esses 350 anos o Brasil foi destino predeterminado de mais de 4 milhões e 500 mil escravos africanos. Foi a maior território escravagista do Ocidente, mantendo este sistema no campo e na cidades, onde trabalhar era sinônimo de "escravo trabalhar" e não no sentindo oriundo da palavra.
Agora imagine que todos esses escravos eram totalmente dependentes dos Barões e Baronesas, Coronéis e Sinhás, vieram de muito longe a serem vendidos como serviçais, não existia nenhuma perspectiva de aumento no nível social. Imagine também que eles dependiam da comida de seus mandatários e de seus abrigos. Não seria mesmo fácil.
E a partir de então, o que eles iriam fazer? Ser mandado embora mas não ter para onde ir é bem controverso.


É como se eu não gostasse do emprego que trabalho por não ser valorizado ou ganhar mal, mas não poder pedir conta pelo fato de ter uma família para sustentar, uma faculdade para pagar, um carro para manter. Afinal, aqui tento encaixar o ditado de que "é melhor um passarinho na mão do que dois voando".
Sim, estavam eles ficando sem um "lugar" social, sem um rumo. Na verdade até tinham um lugar, continuar na situação de escravos, dependendo de seus chefes.
A partir daí, negros viviam nessa situação de não ser escravos mais estar escravos. Entenderam? E hoje não é difícil de ver essa situação de negros serem sempre os subordinados, os da inferioridade, segunda opção. Em propagandas do governo, advinha quem é a mãe pobre e os meninos da periferia que correm para "dramatizar" a cena? Advinha quem é também que faz propagandas de carros de luxo? Homens brancos. O que ainda denota outro assunto que não vem ao caso: Mulher não combina com volante, que não combina com dirigir, que não combinam com propagandas de carros, muito menos de cerveja.
É difícil mesmo ver um negro nas mais altas patentes. Se bem que "aqui e aculá" a gente ainda encontra um Juiz bem sucedido, um Joaquim Barbosa ou talvez, quem sabe uma Desembargadora Luislinda Valois, primeira magistrada no brasil (Aconselho ver história linda de Luislinda). Em salas da faculdade é bem claro perceber isso, inclusive sou o único negro entre 25 alunos da minha turma.
 Sendo bem magnânimo, antecipo em dizer que aos poucos, bem pouco, vamos conseguindo exterminar estas separações. Já estou vendo até meninas negras se libertando da "escravidão do cabelo obrigatório". Finalmente estão se libertando da ditadura com a transição capilar.
Mas e agora? O que fazermos?
Acalme-se. Vai dar tudo certo. Se a gente colocar, a nossa ação na fé, vai dar tudo certo.
A mudança começa de nós mesmos e de nossas ações. Não espere que os outros não façam, mas vá e faça primeiro para que os mesmos se animem a fazer também. É lei: Nós influenciamos a cultura e a cultura nos influencia. É um ambiente em transformação e construção constante da realidade social.

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Até logo!

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